Estudo da Univates aponta casca de árvore com potencial para tratamento de doenças gástricas
Por: Artur Dullius/Univates
É comum encontrarmos no território gaúcho a presença da
espécie arbórea Ceiba speciosa, também conhecida como paineira. O que poucos
sabem é que a casca dessa árvore pode esconder um poderoso elemento para o
tratamento de doenças gastrointestinais, como úlcera e gastrite. É o que aponta
uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia
(PPGBiotec) da Univates.Márcia Goettert e Juliana Dorr (d) são as
autoras da pesquisa (foto Artur Dullius/divulgação)
O estudo teve início em 2014 a partir de uma proposta da
mestranda Juliana Dorr. Na época, a estudante ainda era graduanda do curso de
Farmácia e teve na família a inspiração para produzir seu trabalho de conclusão
de curso. “Eu sempre gostei da área de fitoterapia, e tinha na minha família o
caso de um parente que utilizava essa planta para tratar a úlcera”, explica
Juliana.
Conforme explica a coordenadora do grupo de pesquisa
“Biotecnologia e farmacologia de produtos naturais”, professora Márcia
Goettert, o uso caseiro da planta consiste na extração da casca do caule, que
posteriormente é imersa em água e levada à geladeira. “A água, no papel de
solvente, tem a capacidade de extrair alguns dos compostos presentes na casca
responsáveis pelo efeito”, afirma Márcia.
Em busca de metodologias que permitissem avaliar esse
potencial antiulcerogênico, foram também preparados diferentes extratos, como o
etanólico, o aquoso e o etnofarmacológico (caseiro).
Segundo a pesquisadora, um dos extratos, preparado de forma
diferente do modelo etnofarmacológico, tem apresentado resultados ainda
melhores. Para investigar o efeito mencionado pela população local que faz uso
da planta, o grupo de pesquisa vem realizando diferentes análises por meio de
atividades in vitro (com células humanas) e in vivo (com ratos e camundongos)
para auxiliar na elucidação do mecanismo envolvido.
Para a nossa surpresa, um dos extratos preparados com a planta reverteu a situação (úlcera induzida). O animal tratado com o extrato da planta teve uma resposta positiva comparável com os animais que foram tratados com omeprazol, um medicamento utilizado para o tratamento de gastrite e úlcera, coloca Márcia Goettert, coordenadora do grupo de pesquisa “Biotecnologia e farmacologia de produtos naturais”.
Durante o segundo semestre de 2017 Juliana permaneceu por 15
dias desenvolvendo pesquisas com um grupo parceiro, no laboratório de
farmacologia da Universidade de Vila Velha, e realizando experimentos
adicionais para confirmar e complementar os resultados já encontrados.
Para os próximos passos a pesquisadora garante que é
necessário confirmar esse potencial, além de identificar quais
fitoconstituintes presentes são responsáveis pelo efeito benéfico, ou seja,
qual o mecanismo farmacológico. Posteriormente, se confirmados os resultados,
os dados poderão ser repassados a uma indústria farmacêutica. “Temos grandes
perspectivas de desenvolver algum produto, um fitoterápico ou até algum fármaco
inovador oriundo dessa planta”, conclui Márcia.
Crescimento no uso de fitoterápicos
O uso de medicamentos oriundos de produtos naturais tem
crescido consideravelmente no mundo, conta Márcia. No Brasil, diversas plantas
são utilizadas pela população, mesmo sem estudos científicos. Atualmente, das
71 plantas que fazem parte da Relação nacional de plantas medicinais de
interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus), 12 delas já são distribuídas
pelo próprio SUS. “Os fitoterápicos muitas vezes apresentam menos efeitos
colaterais do que os medicamentos sintéticos”, diz Márcia.
Patente já depositada
Em 2015, a Universidade entrou com pedido de patente para a
utilização da planta medicinal. A concessão foi outorgada em 2016, junto ao
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
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